Da última vez deixei-vos em Melides, à volta de uma fogueira. O Tiago continou a preocupar-nos, uma gripe podia vir a ser um grande inimigo. Imaginava na minha cabeça o que tínhamos de fazer caso piorasse ou simplesmente não melhorasse nos próximos dias: levá-lo ao hospital mais próximo, ou comboio, recambiá-lo para casa, desistir da viagem, continuarmos só a três quartos, enfim, não estava fácil. Saímos de Melides e dirigimo-nos a Santo André, onde chegámos quando o sol começava a ser insuportável. Descansámos e comemos à beira de um Intermarché (que assegurou um fornecimento contínuo de gomas e afins) e perspectivámos o resto da tarde.
Custou um bocado acertarmos com a estrada a caminho de Sines, mas depois foi "sempre a direito" até cortarmos para a costa, rumo a Porto Covo. Estávamos a entrar na Costa Vicentina! Do nosso lado direito desenrolava-se o mar, e do outro lado da estrada estreita o típico deserto alentejano, pontuado por algumas casas quando passávamos por uma vila.
A norte conseguíamos ver o porto de Sines e a sul a costa toda, até à Ilha do Pessegueiro (na foto!)
Estávamos com intenções de parar em Porto Covo, então fizemos uma volta de reconhecimento pela vila e arredores em busca de um sítio para acampar... mas sem sucesso. Quando já estávamos na estrada que partia da vila, o André manda o bitaite "porque é que não pedimos para ficar numa destas quintas?" Paramos. Pensamos. Bolas, porque não. No máximo mandam-nos dar uma volta, ou soltam os cães :P Enveredámos por um caminho que se assemelhava a uma entrada... e damos com um senhor a descarregar uma carrinha. Dirijo-me a ele enquanto os meus companheiros se acobardam à vista de um cão solto (mariquinhas!) e digo-lhe, do melhor jeito que o meu cabelo empastado, barba suja e olhar ligeiramente tresloucado permitiam: "Boa tarde! Olhe, nós (aponta para os maricas) estamos a viajar de bicicleta pelo Alentejo, viemos desde a Figueira da Foz (ah conhece, ah que bom) e estávamos à procura de um sítio para passar a noite. Será que não tem um cantinho para nós? Somos gente sossegada e saímos pela manhã!"
Ora, todo um olhar desconfiado que o sujeito emitia levou-me a preparar para um redondo não, quando ele diz, antes sequer de me cumprimentar... "escolham um sítio... não fazem lixo?" Desmancho-me no meu melhor sorriso e apresso-me a assegurar que não deixamos nenhum lixo para trás. Uns dedos de conversa mais tarde, a dirigirmo-nos para trás do fardo de palha onde íamos montar a tenda e já tinha o Sr. Zé a dizer-me que, por ele, "ficavam um mês que não incomodam!" Foi uma boa surpresa e um óptimo acabar de dia.
Deitámo-nos ao trabalho de montar as tendas, preparar o jantar... e depois fomos (tirando o Tiago, a ressacar da gripe na tenda) dar uma volta à vila de Porto Covo, que nos ia reservar mais umas surpresas.
Sábado de manhã, partimos numa pequena excursão à serra, no âmbito do Projecto Limpar Portugal. O objectivo era procurar lixeiras ao longo de alguns caminhos. Percorremos parte das estradas do lado sudoeste (a zona menos problemática da serra), e concluímos que, em grande parte, se encontra num muito bom estado de conservação.
Encontrámos, no entanto, alguns sítios assinaláveis como lixeiras. Maioritariamente restos de entulho - produto das obras realizadas perto - ou madeiras velhas. De realçar um veículo tipo tractor abandonado e um frigorífico submerso em caruma.
Seguindo o protocolo do PLP, registámos o local e especificações úteis como o tamanho da lixeira, tipo de lixo, equipamento necessário para limpar, número mínimo de voluntários, entre outros. Esta informação vai ser guardada de momento, até à reunião do grupo figueirense, onde se vão tomar decisões quanto ao que tem que ser feito até ao dia L.